O Cotidiano de Francisco

Você sabia que para escrever a história, historiadores fazem análise de documento?

Eles reúnem textos do período que estão estudando e a partir deles fazem intepretações do passado. Esta será a sua tarefa: desvendar as pistas da documentação e criar uma narrativa para contar a história de Francisco de Quadros. Para isto, siga as etapas abaixo. Quando tiver reunido todas as pistas possíveis, é hora de criar sua narrativa!

Francisco de Quadros foi um africano que viveu na cidade de Nossa Senhora do Desterro, que hoje é chamada de Florianópolis/SC, na metade do século XIX. Não sabemos dizer quando ele chegou ao Brasil. Como você deve imaginar, ele teve que reescrever sua história: construir uma família e trabalhar para sobreviver. Assim como outros homens e mulheres vindos da Costa da África, Francisco criou vínculos de solidariedade em Desterro, para que pudesse viver melhor.

Primeira Etapa

Era na Rua da Palma, no bairro da Figueira, que Francisco e Augusto moravam. Descendo a rua em direção ao porto, perpendicular a ela, estava a Rua do Príncipe. Seguindo a leste nesta rua, Francisco chegava à Rua do Propósito, desde 1808 conhecida como Rua da Paz. Foi nesta Rua que alugou um terreno de quatro braças de Laurentino Eloy de Medeiros, em junho de 1852. Três meses depois, alugou outro terreno de duas braças na mesma rua, de Joaquim José Varella, que extremava pelo Norte com as terras de Medeiros. Este afirmou que Francisco havia levantado ali um telheiro para quitanda, cercou e fez plantação naquele espaço.

            Para chegar à Rua da Paz, Francisco também poderia seguir por outro caminho: subir a Rua da Palma até a Rua Bella do Senado, virar à direita e na próxima rua estaria seu destino. Muito provável que este fosse seu caminho mais cotidiano, uma vez que na Rua Bella do Senado, também conhecida como Rua dos Moinhos de Vento, Francisco alugou um quarto em uma casa de Henrique Schutel, médico conhecido na cidade. Ali, ele também havia armado uma quitanda.

            Identifique no mapa abaixo os locais mencionados acima.


Fonte: CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco. Negros em Desterro: Experiências de populações de origem africana em Florianópolis na segunda metade do século XIX. Itajaí: UDESC; Casa Aberta, 2008, p. 68.

 Crie uma planta com as propriedades alugadas por Francisco, especificando o nome das ruas, assim você poderá visualizar melhor o seu caminhar pelo Bairro da Figueira.

 Segunda Etapa

O que é uma quitanda? No século XIX era comum encontrar várias ao andar por diferentes cidades do Brasil. É como uma pequena mercearia, mas não com as estruturas que estamos acostumados atualmente, onde podia se comprar diferentes gêneros alimentícios.

Veja na obra de Henry Chamberlain como ele representou este tipo de comércio no Rio de Janeiro.

Quitandeiras da Lapa (1819-1820), de Henry Chamberlain

Fonte: CHAA, Centro de História da Arte e Arqueologia – UNICAMP. WARBURG -Banco Comparativo de Imagens. Henry Chamberlain. Disponível em: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br/artistas/view/1470> .

 Agora você já tem uma pista do trabalho de Francisco. Será que era por meio de seu ofício que ele negociava e criava vínculos com várias pessoas?

Sua tarefa agora é fazer um desenho de Francisco em um dia de trabalho. Fique atento aos detalhes: quais roupas ele utilizava e como era a sua postura. Estas foram as roupas encontradas na casa de Francisco quando faleceu: 1 chapéu de pelo, uma sobrecasaca de pano, calças de casimira azul e dois coletes.

Dica: você pode buscar imagens destas roupas para criar seu desenho.

 

Terceira Etapa

            Você notou que Francisco provavelmente mantinha uma rede de relações com homens que tinham condições diferentes das suas? Será que estes vínculos possibilitavam a Francisco viver melhor na cidade de Desterro?

            Além destes vínculos, provavelmente Francisco construiu na cidade de Desterro laços afetivos. Sabemos que entre os anos de 1820 e 1843, ele batizou na Igreja Matriz vários africanos e africanas, assim como crioulos, filhos de africanos nascidos no Brasil, fossem eles de condição liberta ou escravizada. Localize na pintura de fundo desta página a Igreja da Matriz.

            É importante saber que ele era um homem liberto, isto é, em algum momento de sua vida Francisco conquistou sua liberdade. Será que esta era uma prática comum de homens libertos? Talvez você descubra um pouco mais sobre o significado de liberdade na trajetória de Antonio.

            Francisco batizou como padrinho onze pessoas adultas que assim como ele, vieram de algum lugar do continente africano. Os registros de batismo, trazem ainda uma identificação do local de onde tais pessoas vieram (Se você for até a trajetória de Augusto, vai saber um pouco mais sobre estas identificações):

            Joanna, Cabinda; Anna, Moçambique; Maria, da Costa; Domingos, da Costa; Pedro, da Costa; José, da Costa; Maria, Moçambique; Catharina, Cabinda; Luis, Congo; Isabel, Moçambique e Domingos, Moçambique.

 Fonte: ACMF. Livro de Batismo de Escravos de1818-1840; Livro de Batismo de Escravos de 1840-1850.

 Agora reflita: o que significa para nossa sociedade o batismo? O que será que significava para Francisco? A partir disto, crie um esquema, especificando os vínculos que Francisco construiu no período que viveu em Desterro.

Dúvidas de como criar um esquema? Veja o exemplo abaixo: o nome de Francisco deve estar no centro e ao seu redor aqueles com quem tinha vínculos. Nas linhas, você pode escrever qual era o tipo de vínculo que possuía.

 

Quarta Etapa

                Ao norte da Igreja da Matriz, outro local também muito frequentado por Francisco, estava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A maior parte daqueles que frequentavam esta igreja eram africanos e seus descendentes. Formavam, então, uma irmandade, com a qual podiam se auxiliar nos momentos difíceis e celebrar histórias e práticas culturais comuns tanto do continente africano, quanto as que reelaboraram aqui em terras brasileiras.

            Francisco de Quadros foi juiz da Irmandade nos anos de 1844, 1848 e 1850. Este cargo era o mais importante da instituição. Veja na aquarela abaixo como o pintor Jean-Baptiste Debret a registrou. Analise-as em todos os detalhes: quem está presente, o que estão fazendo, quais vestimentas estão usando, quais funções cada um representa, explicando o porquê.

Coleta de esmolas para a Igreja do Rosário. Porto Alegre, 1828. De Jean-Baptiste Debret.


Fonte: BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa. Debret e o Brasil: obra completa, 1816-1831. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2013. p. 631.

Agora você já tem algumas pistas sobre a trajetória de Francisco. Está pronto para criar uma narrativa que conte sua história!

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